sábado, 8 de janeiro de 2011


Hoje, ao acordar, senti-me como... Eu entendi como se sentiu Gregor, personagem do livro metamorfose, obra máxima de Kafka, um dos escritores mais importantes do mundo, porém inacessível para a maioria das pessoas, pois estão presas à uma maldita inércia, à uma maldita superficialidade, que agonia a minoria, a "insignificante" minoria que rejeita essa vidinha imposta e preestabelecida, e, portanto, esperada, e arrisca a própria felicidade, por sua vez baseada na tão necessária (?) aceitação do restante... E procura mais...
Todavia, imersos na sua costumeira solidão, depara-se com o menos. E segue disfarçando suas lástimas.
E não encontra o "mais", talvez por não procurar: Pelo medo do julgo dos outros. E fica pensando nesse "mais" como se a vida, a vida propriamente dita, girasse em torno de tal ideia. Como se tal ideia consistisse de fato numa realidade. Vez ou outra percebe que não. Que tudo nunca saiu nem vai sair do campo imaginário. E o socorro vem da única arma encontrada no físico: As lágrimas.
E aí... Eu, assim como Gregor, vi-me hoje de manhã, no meu quarto, metamorfoseada num inseto monstruoso. Eu, assim como ele, não consegui virar-me para o lado, nem tão pouco abrir a porta; e sair exigiu de mim um esforço hercúleo.
Ao tentar falar com as pessoas para obter ajuda, também não consegui ser compreendida pelos que (supostamente) me ouviam, pois da minha boca só saíam sons incompreensíveis para os seres humanos. O que consegui causar foi uma sensação de horror e perplexidade devido à minha nova forma, digamos, inusitada.
Sabe, a gente finge o tempo todo. Fomos ou somos condenados, sabe-se lá por quem ou por que, a agir sempre de acordo com o que esperam de nós. O ruim é que quando percebemos, se é que percebemos, a enorme farsa na qual estamos ou somos submetidos, e vem a vontade de gritar, de parar, de dizer não, de deixar de lado as "gentilezas" e deixar vir à tona as hostilidades, de parar de rir e chorar, de burlar o sistema, de... Aí (...)
Mas não pode gritar. É implicitamente e cruelmente, e mais um monte de "mentes", proibido. O jeito é seguir com o resto dos marionetes. Esquecer toda essa escrotice e seguir.
Deixa eu agora pedir licença para dizer, mesmo ciente do arependimento que virá posteriormente... Porque sempre quando revelo um "eu" que o mundo não está preparado para conhecer, ou ao menos saber que existe... Ou se percebem, o que importa? O que importa alguém que não entende, mas que queria entender porque nos querem iguaizinhos e chorando as mesmas mazelas, os mesmos amores "perdidos", baseados num perfil criado para nos homogeneizar? Tudo tão imensamente sem sentido, mas que é considerado o sentido da vida. Meu Deus... alguém me tira desse escuro...
Mas para que ver nas pessoas mais do que elas mostram? Mais que suas unhas pintadas ou não, seus corpos, cabelos, sorriso... Para que ouvir mais do que foi articulado pelas palavras ditas em diálogos tão convenientes?
Não consigo dizer tudo com palavras, ou simplesmente não quero.
O que pode ser pior que o "tanto faz"? Incomoda-me demais esse "tanto faz", incomoda-me fingir que esse "tanto faz" não me incomoda, incomoda-me o contrário, que é o que tá acontecendo agora.
Incomoda-me o modo como sou vista, e, principalmente, o modo como não sou vista. Incomoda-me o caus instalado no mundo. Incomoda-me o incômodo que sinto ao ver esse caus enquanto as outras pessoas parecem sequer ver. Incomoda-me essa sensação de ser esse gigante e monstruoso inseto capaz de exprimir somente sons inaudíveis. Não sei se algum dia conseguirei sair dessa minha forma tão destoante de inseto, ou se como Gregor (...)

2 comentários:

  1. Você se incomoda demais. Por isso anda por aí perdendo os cabelos.
    Faria outro comentário mas optei por manter a estabilidade da nossa relação.

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  2. Boa opção. Mas pode fazer. No momento não estou podendo me incomodar muito com as coisas. Faça o tal comentário se quiser, sem problemas.

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